Escrito



A poeira no ar e para mim era tão sensível percebê-la. Tinha fim, mas o que me causava encantamento era um pó brincando com o vento. Os carros pela rua em noite. O muro estreito e os meus passos rastejavam para um lugar que eu não queria ir.

Entretanto, nem tudo foi desalento. Havia uma conversa de tantos planos. Um sonho com passado envolvendo o presente e predestinando o futuro. Maktub! Estava escrito em alguma folha de papel esquecida, intitulada pela minha história.

O cansaço, a velhice, o peso maior, o acumulo das decepções... Isso compunha a beleza do medo em ter que se aproximar.

Não me pergunte de quem estou falando ou de que. Pode ter certeza leitor, se pensar um pouco, vai descobrir.  Portanto, não me questione tanto; não me deixe ainda mais confusa.

A aula foi à distância e a nota hipócrita, por incrível que pareça, máxima. Mas do que me vale isso? Eu só penso na poeira dançando, cantando...


para mim.

                             _Manuela Felix_

SMASH



Com uma falha na conexão 3G tentei muitas vezes postar a foto no Instagram. Era um momento especial que desejava compartilhar com todos os meus contatos, seguidores e afins. Precisei desligar o celular, esperar um tempo, ir à cozinha, abrir a geladeira, comer, ligar mais uma vez o aparelho e iniciar o processo obtendo êxito. A foto foi postada, os seguidores curtiram e outros, como sempre, criticaram. Faz parte.

Depois me vieram tantas situações este ano em que precisei começar do zero para ver o erro, ceder a minha vontade para inclinar os ouvidos e escutar os mendigos espalhados no cotidiano.

Tudo é tão sombrio quando não temos mais o controle e perdermos o que nos restou. A última lembrança, o amigo, as ideias e até a si próprio.

Eu perdi muito. Tive medo na luz da cidade, frio nos raios solares das 11h, fome na rua esquecida das estradas para lugar nenhum, pois decidi não ter mais controle.

Alguns dirão que estou mentindo, mas o que será de nós se nos importarmos tanto com o que terceiros vão concluir? Enquanto falam, vou distribuir a vida acima de toda dor.

Tenho saudades da minha casa.

Do cheiro no meu jardim.


                                 _Manuela Felix_

Ônibus



A característica era definida por: lotado com a rotina de quem trabalha, estuda e luta diariamente. Eu estava na porta dos fundos totalmente presa, quando vi um lugar vazio e frio para acabar com as câimbras na visão comprometida pela falta do que ouvir.

Foi quando do meu lado esquerdo a música invadiu as minhas lembranças e, depois de muito tempo, tive vontade de cantar. Tudo isso porque um cara da favela esqueceu o seu fone de ouvido e agraciou a todos os estressados presentes com um som do Tim Maia Racional.

Ai foi quando me lembrei de que, no passado, eu estava no meu quarto admirando a obra desse grande cantor brasileiro e compartilhava a minha paixão com um ex-boy, só para causar uma boa impressão que logo após se tornou uma reverencia profunda: eu realmente me apaixonei pelo carinha e também por Tim Maia. Foi um tormento conciliar essa violência sentimental.

Mas voltando para o presente, a marginalização social pôs um bom gosto musical na minha ida para a faculdade. Foi estranho, pois os meus pés estavam no ritmo e a minha voz quase se transformou em segunda só para acompanhar aquele homem que pela sujeira e consequências de uma vida frustrada, se agarrou a uma camisa suada  para descer junto comigo na linha de chegada.


O caminho do bem...

                                           _Manuela Felix_

Cabeça



Dor é não saber o lugar certo. As armas estão passando, as tranças se desfazendo e a tatuagem extinta perde o sentido.

Uma batalha constante de e-mails que pretendo não responder e de ligações que nunca vou retornar. Quem não quiser aceitar, se afaste. Quem me quiser por perto, me subestime.

São jogos e escolhas das quais tenho a concretizar no solo árido do intocável. O olhar sobre os óculos vencidos.

“Ultimamente não estou falando nem comigo mesmo”, falou um grande amigo vindo de Alagoas tão extasiado para falar do destino que uniu, afastou, reclamou, me fez rir no ócio de uma tarde com temperaturas acima da minha impaciência.


Quero um pouco de frio. 


                                      _Manuela Felix_

Festival




Uma câmera perfeita com a luz incidente. Perguntas que se escolhem no calor do momento quando o entrevistado espera o seu melhor.

A voz dele me pergunta: “Você preparou alguma coisa?” e eu apenas respondo: ” Não, mas na hora eu vejo.” E ficamos ali rindo do improviso que tem dado muito certo.

O resultado está gravado na TV que traduz a nossa vontade para fazer a diferença ao criar algo novo.

Sejamos fogo a conservar um sonho vivo, pois quando a gente se olha com a certeza de que tudo foi bom é como se fosse a primeira vez de muitas coisas boas que virão. Uns sorrisos soltos pelo ar com pensamentos além da sanidade mental se encontram na vontade para realizar.


Acredite. 


                                   _Manuela Felix_

Apartamento




Uma tristeza no canto da cabeça me incomoda ao tombar na raiva excessiva contra os laços de sangue. Existe  angústia quando encontro um amigo cujo suor é o reflexo de toda minha cidade.

A esperança parasita de ditados populares sempre ecoa: sou a última que morre. Então vamos por aí esperando por algo que talvez nunca venha, nunca passe, nunca suporte.

Detesto a pureza hipócrita dos que louvam seus altares com o livro de Deus nas mãos. São olhos vazios de êxito e uma tormenta acalentada pela vontade imaginária.

Uma sala vazia me espera. Com um chão limpo, uma luz branca e umas boas ideias.


Construção. 


                                        _Manuela Felix_

Casa



Seja lá qual for o horário, gostaria de desejar ao caro leitor uma coisa boa, daquelas que se parece com um ‘bom dia’ sincero. Sei que alguns esperam a tradução em palavras subjetivas. Só tenho tido tempo de pensar no cansaço e no pouco tempo.

Mas quando o vi em pé com os olhos cheios de lágrimas, não bastava o som. Tinha medo, insegurança no ar, era como te ver online todos os dias. Espera-se uma atitude. Não darei esse gosto tão nordeste mais uma vez.

Era tão preto e branco como os pés que pousam na minha janela para sentir o vento frio da noite depois do calor nas 48 horas seguidas. Ainda percebo o mais forte fraquejar e o mais corajoso sentir que pode morrer a qualquer instante.

Isso tudo está em um livro solto como na alma feroz da insegurança. Encosto a cabeça no ônibus para mudar o caminho. Eu quero agir em contemplar a vida com uma paz no

mar.


                                         _Manuela Felix_


Tecnologia do Blogger.