Telefone





De repente me voltei para o passado apenas com uma ligação. Revi momentos tristes e felizes, conversas, olhares sinceros e passos compartilhados.

Sim nós éramos amigos e chegamos a pensar que tudo seria para sempre e que nunca a distância podia vencer o que vivemos. Mas venceu. Por escolhas minhas e suas. Por passos do inevitável, eu estou aqui e você em algum lugar bom lembrando de coisas que eu já havia esquecido.

Falar contigo novamente foi como o soar dos ventos ao ouvir o teu perdão. Não guardo mágoas, só lembranças apagadas do passado, do presente e do futuro.

Essas são as surpresas do caminho: uma ligação que não se espera, um abraço apaixonado e um derramar de amor desconhecido. Isso tem feito toda a diferença.

Amo esse destino louco e sem nexo que se destoa na minha frente não querendo saber a minha opinião, mas simplesmente me toma nos braços e me cobre de ensinamentos. Eu chamei de destino. Entretanto, vou consertar. Isso é DEUS mesmo. 



                                                  _Manuela Félix_

#VEMPRARUA (um passado bem presente)



Os pombos estavam comendo as migalhas no chão. Eram os primeiros raios de sol. As malas faziam peso nas minhas costas. Entretanto, o meu pensamento estava leve. Era a felicidade de quem iluminou o descanso e acordou como a maioria dos que fazem essa nação. Reconhecemos: o gigante brasileiro é forte, impávido colosso.

Os cartazes, as caras pintadas, as vozes da revolta, as ruas que caminham nossos sonhos, a vergonha política, o descaso social e diga o verde-louro desta flâmula - paz no futuro e glória no passado. Mas, se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta. Nem teme.

Para muitos que governam o nosso Brasil, representamos apenas os votos contidos. Não somos vistos como povo, raça ou até mesmo seres humanos. Porém, continuemos a lutar, ir às ruas, acreditar na mudança. A insatisfação atual prova que esse é o momento para dar um fim a constante exploração que sofremos. 

Fazemos parte de um sonho intenso, um raio vívido de amor e esperança. O céu está formoso, risonho e límpido. A imagem do Cruzeiro procura resplandecer a própria natureza, pois és belo e o teu futuro espelha essa grandeza.


#VEMPRARUA!



                                                            _Manuela Felix_



P.S: FOTO - Protesto em Maceió-AL - 20/06/2013 (por Manuela Felix)



Unidas?



Olhei a borra de café que se abria pelo chão. Os detalhes do tapete perdiam a vida enquanto todos da sala riam, esbravejavam, viam televisão, se olhavam e se amavam apesar de tudo. Talvez seja algo que não se vê muito hoje, mas o que se pode fazer? É a família.

Em todas as épocas, contos e músicas, a união sempre fez a força clichê de simplesmente ser e ninguém pode contestar a pura verdade. Se Caetano, Gil ou Gal não estivessem unidos provavelmente não valeria a pena ouvir muitos dos tons brasileiros. Como sempre os laços de sangue, de culturas, de poder, de ódio ou amor em vão são rejeitados, pois nada pode impedir o inevitável triunfo.

Quando a II Guerra Mundial veio como as tempestades de eras e tempos em países e gerações, a comunidade internacional teve um súbito sentimento para manter a paz. A ideia de criar a Organização das Nações Unidas (ONU) veio através de um planejamento de anos, horas, hipocrisias e lágrimas com intenções fingidas.

A união de nações organizadas aprovou envio de rebeldes a Rússia, viu os próprios interesses econômicos e todas as palavras vindas dos vulcões do calabouço de toda podridão humana prevalecerem. Vidas foram sacrificadas, multinacionais enriqueceram, as plantações morreram, o comércio das armas continua e a guerra na Síria interrompe histórias, como a minha e a sua, de gente que só queria acreditar que o sonho é possível.

Onde está a paz? Onde está a verdadeira força? Onde está o pano para limpar o café que caiu no tapete da minha casa?


Estou procurando a resposta para tudo, mas o que posso fazer agora é escrever a tradução da minha inquietação para você. Ajude-me. 



                                              _Manuela Felix_

Cadeira



Estava comendo umas coisas engraçadas que se chamam calorias. Depois que dias cansativos e exaustos de toda cólera gotejante pairavam sobre o ar da sobrevivência, resolvi dormir.

Sonhei nas coisas lindas e feias que nos rodeiam as palavras sangrentas com os passos da madrugada solta em uivos dos lobos adormecidos e o mar da vida sombrio, assustador, profundo e belo.

Queria informar que os meus sonhos não são tão bonitos e não existem ideais, mas sim ilusões projetadas com expectativas tolas.

Não se engane pela lua ou pelo vento do som em meio ao barulho. O meu coração está preso e as feras se escondem por trás de muitos sorrisos.

As correntes que prendem os pensantes são as mesmas que soltam as horas de extensões geniais.


Faça-me crer que é possível e não se engane por causa das contas de luz. 



                                                     _Manuela Felix_

Ruanda TUT-HU



Um dia preso no passado das lembranças, me voltei para trás e contemplei algumas cenas engraçadas. Quando fugi de casa ou até mesmo quando brincava na escola, a inocência era algo eterno e tão presente. Entretanto, a vida dissolve o cotidiano infantil e nos prepara para as épocas de amadurecimento.

Crescer custa à troca de muitas dores e sons de palavras lamentáveis dos dias comuns. Das roupas ditadas pela moda e dos gritos contidos pelo sistema. Como é bom ser criança e não saber a verdade sobre as intenções do ser humano.

Eu ainda era criança quando Ruanda - país localizado na África Central - em 1994, foi devastado por um genocídio dilacerado pela violência, pelo transtorno dos valores e pela inquietação de uma etnia.

A nobreza Tutsi, junto com a inicial administração dos Belgas, subjulgou os Hutus - etnia da massa populacional - ao descaso social. Era um só povo que foi divido por interesses tão mesquinhos que os motivos apresentados diante da vida em suas singularidades básicas - como: respeito, harmonia, integridade e paz - se tornam superficiais.

A constante situação humilhante, desumana, sufocada da impossibilidade de sonhos ou aspirações, em que se encontravam os hutus, gerou um ódio no coração dos que compunham essa identidade de uma massa modelada para ser excluída.

O resultado não poderia ser diferente: o genocídio achou o seu lugar na história onde a morte não escolhe povo e elite, pois igualou na correnteza do sangue, a fúria dos homens. Existem hipóteses de que tudo foi planejado. Existem vidas que não sobreviveram para contar a verdade.

Hoje, onde não sou mais criança e Ruanda continua procurando a paz, as consequências de tal horror ainda persistem. No território ruandês, a raça africana ainda busca a cura da sua fome, da sede, das lembranças, do medo e da própria vida. É caos produzido pela constelação das estrelas negras.

Por isso, enquanto eu era criança, Ruanda brincava de tentar existir.



                                                                       _Manuela Felix_



P.S: Tema sugerido por Walcler Junior

68



Na ciência matemática o número não expressa sentimentos. É uma partícula que transmite a simples objetividade. Entretanto, quando apresentamos os números a sociedade no seu lado em rara essência humana, tudo muda.

O número pode significar quantas vezes o nosso olhar tocou as pessoas que amamos, quantos beijos nos foram dados, quantos abraços trocados, quantas lágrimas nasceram e morreram ou quantos passos foram e serão protagonizados. A vida é numeral.

68 é uma dessas anuais combinações numéricas que em alguns causa um impacto de vida e morte. Dizem que foi um ano que nunca terminou. Outros se lembram do réveillon inesquecível. Casamentos foram quebrados e a ditadura foi como a correnteza maldita da lava vulcânica de um momento político. Porém, uma das pessoas que mais marcaram a simbologia mística do meia-oito foi Edson Luís.

Ele era um estudante comum como eu sou ou como você um dia foi. Não tinha nada de extraordinário que o destacasse no meio da multidão de discentes fervendo na revolta mediante um regime opressor. Entretanto, em um Calabouço no Rio pertencente ao mês de janeiro, Edson foi assassinado pela polícia militar.

Dessa forma, o homem morria e o mártir nascia. A classe artística, a parte inimiga, o todo familiar, os amigos de guerra e paz e todos contra ao acontecimento se reuniram para chorar, de alegria ou tristeza. Porém, a dor sincera da maioria não era simplesmente por perder uma vida, mas por sentir que tudo poderia estar perdido.

Mas os anos se passaram, a ditadura aparentemente acabou e o estudante sem eira nem beira atravessou os tempos e entrou na minha mente inquieta. Pensei muitas vezes e chorei em forma de palavras. Não existiram contas, mas retifiquei: a vida é numeral.



                                                                          _Manuela Felix_




P.S: Texto inspirado no livro 1968: o Ano Que não Terminou escrito por Zuenir Ventura 
Tema sugerido pelo professor Walcler Junior



Posto 7




O chão onde a semente encontra lugar e a chuva se derrama é também abrigo para quem senta, conversa, ama e admira o mar. É possível ter paz na roda incandescente do tempo social apto a escravizar uma minoria. O posto 7 é caracterizado por grupos que a sociedade discrimina e julga, de certa forma, com tom cristão. Por que?

Um frequentador – que com o calor da conversa não se identificou e tudo ficou por isso mesmo - do local, assumidamente homossexual, relata que os encontros acontecem no espaço geralmente nos dias de sábado. “Quem gosta daqui são mais roqueiros e gays”, afirma.

Portanto, tudo depende da hora. Existem aqueles que passam com patins e bicicletas; com os filhos rindo ou chorando; com a fome salivada em sonhos desfeitos. Em suma, para quem observa e se sensibiliza, os ponteiros do relógio e o correr semanal exercem suas influencias sobre quem vai e vem.

O Sargento Silva, 46 anos e com 27 deles no serviço militar, declara a realidade-pela ótica policial - de forma objetiva. “Aqui os problemas são com as drogas e pessoas envolvidas com roubos”, disse.

Com o mesmo raciocínio, o soldado Fábio Rocha (38) apresenta uma postura na linha tênue da busca pelo equilíbrio. “Temos o ponto de encontro com vários jovens roqueiros. Além disso, há prostituição. Porém, existem eventos culturais e de qualquer forma é um local turístico”, pondera.

Luiza Resende, dona de casa, é moradora da localidade há 10 anos e gosta muito apesar de tudo. “O mundo tem violência em toda a parte. Por que aqui seria diferente?”, questiona.

Contudo, será que o posto 7 não é fruto de um Estado que segrega, põe a margem, os que não se enquadram nos padrões das usinas que produzem a escória social digna de pena? 

As perguntas se espalham no horizonte e desembarcam no país onde a rosa se fez única no mundo para o príncipe pequeno. Porém, quando menos se espera surge à resposta: “Só se vê com o coração, o essencial é invisível aos olhos”, responde Antoine de Saint-Exupéry.


                                                                 _Manuela Felix_


P.S: Tema sugerido pelo professor Walcler Junior.
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