68



Na ciência matemática o número não expressa sentimentos. É uma partícula que transmite a simples objetividade. Entretanto, quando apresentamos os números a sociedade no seu lado em rara essência humana, tudo muda.

O número pode significar quantas vezes o nosso olhar tocou as pessoas que amamos, quantos beijos nos foram dados, quantos abraços trocados, quantas lágrimas nasceram e morreram ou quantos passos foram e serão protagonizados. A vida é numeral.

68 é uma dessas anuais combinações numéricas que em alguns causa um impacto de vida e morte. Dizem que foi um ano que nunca terminou. Outros se lembram do réveillon inesquecível. Casamentos foram quebrados e a ditadura foi como a correnteza maldita da lava vulcânica de um momento político. Porém, uma das pessoas que mais marcaram a simbologia mística do meia-oito foi Edson Luís.

Ele era um estudante comum como eu sou ou como você um dia foi. Não tinha nada de extraordinário que o destacasse no meio da multidão de discentes fervendo na revolta mediante um regime opressor. Entretanto, em um Calabouço no Rio pertencente ao mês de janeiro, Edson foi assassinado pela polícia militar.

Dessa forma, o homem morria e o mártir nascia. A classe artística, a parte inimiga, o todo familiar, os amigos de guerra e paz e todos contra ao acontecimento se reuniram para chorar, de alegria ou tristeza. Porém, a dor sincera da maioria não era simplesmente por perder uma vida, mas por sentir que tudo poderia estar perdido.

Mas os anos se passaram, a ditadura aparentemente acabou e o estudante sem eira nem beira atravessou os tempos e entrou na minha mente inquieta. Pensei muitas vezes e chorei em forma de palavras. Não existiram contas, mas retifiquei: a vida é numeral.



                                                                          _Manuela Felix_




P.S: Texto inspirado no livro 1968: o Ano Que não Terminou escrito por Zuenir Ventura 
Tema sugerido pelo professor Walcler Junior



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