Merci





A folha em branco potencializa a dor de cabeça. Não consigo escrever a latência de poucas palavras na construção do texto coerente. Ponho os dedos sobre o teclado e começo aquele ritual.

Milton Nascimento em seu “cais” embalou o som das palmas. Pois é possível inventar uma lua nova e, até mesmo, o sonhador. Mas já podaram muitos momentos e desviram alguns destinos.

Ainda quero falar uma coisa que pode estar aqui do lado. .Bem mais perto do que pensamos. É uma questão de juventude e 

fé.                                           

                                                   _Manuela Felix_

Santo




Marcamos. Anotei na agenda. Planejei. Escolhi a saia colorida e uma bolsa cara. O perfume de sempre. A força maior. Objetivamente, eu não tinha foco. Fui ao banheiro. Voltei e me fiz cliente ao folhear o cardápio.

O atraso já esperado me permitiu sentir a música do vento. Observei as pessoas ao saborear uma sensação rara de não ter o que fazer. Foi quando ele chegou.

A postura, os pés e o cansaço. Tudo isso estava no rosto dele poeticamente envolvido pela fumaça do cigarro. Era lindo.

Esse momento de contemplação aliava-se ao papel, as ligações e as inúmeras mensagens que corroíam a minha saúde mental. Eu também estava cansada, mas com ele ao meu lado percebi o mundo na paz tranquila onde podemos fumar sem preocupação.

Da conversa, tiramos proveito de histórias formadas por felicidade, dor e aprendizado. Não queria ir embora. Tudo se estendeu para caminharmos juntos ao ponto da despedida. E isso foi só uma reunião.

Talvez.
                                               _Manuela Felix_

Eleitor




Se eu contasse tudo que vivi nessas últimas estações sentimentais, vocês não iriam suportar. Mas quem sabe não recebo um pouco de crédito conseguindo me fazer sincera ?

Antes de tudo, estava envolvida no hoje considerado o maior evento para estudantes de jornalismo em Alagoas. Uma equipe, várias ideias, reuniões, faltas e brigas. Foi um sucesso com efeitos colaterais.

Perdi amigos, a confiança em muitos e a minha raiva cresceu. A fúria está mais nos meus olhos e passeia a galope dentro de mim. Quem tiver coragem, pode me testar.

Deixando um pouco esse lado da ameaça, vamos ao amor. Me mudei, conheci pessoas especiais, fui a um psicólogo inusitado, peguei gelo, mesa, cadeira e faixa. Pude ser até mãe, pois conversar tem dessas coisas.

Não me arrependi das escolhas, nem dos passos obscuros. Eu precisava do desafio e este me fez acordar.

Ainda bem.

                                                           _Manuela Felix_

West




Por Lana, fiquei sabendo que na Costa Oeste existe um ditado: "se você não está bebendo, não entra no jogo". E a música vem na correnteza querendo entender as portas fechadas e a esperança perdida.

É como a voz para me afastar. A saudade de quem mora longe passeia dentro de mim. Em silêncio, concluo: seu cigarro está aceso na varanda.

Como é doce o garoto. Ele tem seus ícones, suas estrelas de cinema, suas rainhas de Saigon. Mais quente do que o fogo são as conversas decepcionantes no whatsapp.

Mas isso é amor,

baby. 


                                                     _Manuela Felix_

Eduardo




Subi as escadas à espera do meu almoço. Pensava no que eu tinha para fazer naquele dia aparentemente comum. A agenda completa, a cabeça cheia, a blusa amassada e o sapato sujo. Mas quando toquei os meus pés dentro de casa, fiquei sabendo: você tinha ido embora.

Eu sentei na cozinha, minha mãe no sofá e meu pai na mesa. Nós chorávamos juntos. O telefone não parou de tocar e o meu celular recebia notificações de inúmeras mensagens. As pessoas desejavam a nós, uma família pernambucana que hoje mora em Alagoas, força para esse momento de dor.

Na verdade, nunca imaginei o quanto sentiria quando Eduardo Campos morresse. Cresci admirando sua força, seus ideais e tudo que ele fez por nós, pernambucanos.  Ainda não suporto ver as notícias de que ele se foi.  Estou chorando todos os dias, mesmo sorrindo.

Sei que as especulações sobre o que aconteceu assombrarão as nossas certezas bem como as filas de pensamentos entristecidos. Minha alternativa é seguir um dos últimos conselhos de Eduardo Campos: “Não vamos desistir do Brasil”.


E não desistirei.

                                             _Manuela Felix_

Paz



Enquanto procuro uma resposta no meio de uma outra conversa delicada, a menina me contou que pretendia esquecer algumas experiências negativas do passado. Li e me pareceu semelhante com os meus medos e incertezas antigas.

Olhei o espelho interior e disse:” Tudo foi como tinha que ser. Eu mesma tive que passar por coisas ruins para valorizar a mim mesma. Sinto como se fosse a última vez. Porque pode ser a última mesmo.”

Realmente fiz a escolha de virar a página e ler o próximo capítulo da história da minha vida. Os cofres da lembrança nos servem de aprendizado. A gente continua seguindo em frente.

Dos pontos finais conheço bem e me parecem necessários. Melhor ainda são as reticências.

Há sempre uma chance.


                                                              _Manuela Felix_

Diário



Dentro do local, eu lia Ricardo Noblat e aguardava a minha vez. O clima de Copa do Mundo perdeu a beleza com a derrota da seleção brasileira. O luto vestia verde e amarelo.

Sobre o meu aniversário - que foi no dia 30 de junho -  restaram presentes, amigos, abraços, sorrisos, bolos e quilos a mais. Uma ligação me fez chorar. Faz parte.

Devido aos problemas com o computador, a blogueira aqui não fez mais postagens e escrevia na imaginação possíveis textos sobre pintura alagoana. Pensei que não ia conseguir desenvolver o assunto de um lugar que mal conheço. Ou penso não conhecer.

Nas horas vagas dessas férias, vou seguir na crença de que a alegria tem um jeito doce de permanecer comigo. O sorriso largado vai incomodar os corações aflitos, as notícias sem apuração, os olhares desafiadores e a fúria calma da falsidade diária.

Calada estou e me pergunto: “de onde tiro forças para suportar isso?"


                                                           _Manuela Felix_
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