West




Por Lana, fiquei sabendo que na Costa Oeste existe um ditado: "se você não está bebendo, não entra no jogo". E a música vem na correnteza querendo entender as portas fechadas e a esperança perdida.

É como a voz para me afastar. A saudade de quem mora longe passeia dentro de mim. Em silêncio, concluo: seu cigarro está aceso na varanda.

Como é doce o garoto. Ele tem seus ícones, suas estrelas de cinema, suas rainhas de Saigon. Mais quente do que o fogo são as conversas decepcionantes no whatsapp.

Mas isso é amor,

baby. 


                                                     _Manuela Felix_

Eduardo




Subi as escadas à espera do meu almoço. Pensava no que eu tinha para fazer naquele dia aparentemente comum. A agenda completa, a cabeça cheia, a blusa amassada e o sapato sujo. Mas quando toquei os meus pés dentro de casa, fiquei sabendo: você tinha ido embora.

Eu sentei na cozinha, minha mãe no sofá e meu pai na mesa. Nós chorávamos juntos. O telefone não parou de tocar e o meu celular recebia notificações de inúmeras mensagens. As pessoas desejavam a nós, uma família pernambucana que hoje mora em Alagoas, força para esse momento de dor.

Na verdade, nunca imaginei o quanto sentiria quando Eduardo Campos morresse. Cresci admirando sua força, seus ideais e tudo que ele fez por nós, pernambucanos.  Ainda não suporto ver as notícias de que ele se foi.  Estou chorando todos os dias, mesmo sorrindo.

Sei que as especulações sobre o que aconteceu assombrarão as nossas certezas bem como as filas de pensamentos entristecidos. Minha alternativa é seguir um dos últimos conselhos de Eduardo Campos: “Não vamos desistir do Brasil”.


E não desistirei.

                                             _Manuela Felix_

Paz



Enquanto procuro uma resposta no meio de uma outra conversa delicada, a menina me contou que pretendia esquecer algumas experiências negativas do passado. Li e me pareceu semelhante com os meus medos e incertezas antigas.

Olhei o espelho interior e disse:” Tudo foi como tinha que ser. Eu mesma tive que passar por coisas ruins para valorizar a mim mesma. Sinto como se fosse a última vez. Porque pode ser a última mesmo.”

Realmente fiz a escolha de virar a página e ler o próximo capítulo da história da minha vida. Os cofres da lembrança nos servem de aprendizado. A gente continua seguindo em frente.

Dos pontos finais conheço bem e me parecem necessários. Melhor ainda são as reticências.

Há sempre uma chance.


                                                              _Manuela Felix_

Diário



Dentro do local, eu lia Ricardo Noblat e aguardava a minha vez. O clima de Copa do Mundo perdeu a beleza com a derrota da seleção brasileira. O luto vestia verde e amarelo.

Sobre o meu aniversário - que foi no dia 30 de junho -  restaram presentes, amigos, abraços, sorrisos, bolos e quilos a mais. Uma ligação me fez chorar. Faz parte.

Devido aos problemas com o computador, a blogueira aqui não fez mais postagens e escrevia na imaginação possíveis textos sobre pintura alagoana. Pensei que não ia conseguir desenvolver o assunto de um lugar que mal conheço. Ou penso não conhecer.

Nas horas vagas dessas férias, vou seguir na crença de que a alegria tem um jeito doce de permanecer comigo. O sorriso largado vai incomodar os corações aflitos, as notícias sem apuração, os olhares desafiadores e a fúria calma da falsidade diária.

Calada estou e me pergunto: “de onde tiro forças para suportar isso?"


                                                           _Manuela Felix_

People




Percebi o quanto crescemos e o muito conquistado. A negra olhava uma placa que dizia “Venha para a melhor de Alagoas”, e eu me questionava: será que esse é o melhor lugar?

Bem: quando cheguei não conhecia ninguém, nem a mim mesma. A ciência conquistou e os conflitos diários se moldaram aos momentos felizes que viriam. O cinza turístico foi substituído pelo azul e vermelho de uma bandeira desvalorizada.


Conheci municípios, famílias, casas, amigos e dores. Tudo isso aqui onde estou. Calma é saber da construção que valeu a pena. Suspeito pensar na volta ao passado. Agora, só penso em ir.


No ônibus tocava The Beatles e as ruas em verde e amarelo ofuscam os meus pés cansados da Copa do Mundo.


Julho já vai chegar.


                                         _Manuela Felix_

Newspaper





A notícia é aquela temperatura social que contagia os nossos pensamentos e intuições. 
Sua objetividade é a fórmula para nos “informar” em cotidianos caóticos onde comemos 
de mãos vazias e pés sem destino. O sistema opressor molda a nossa
 personalidade influenciável. Mas isso já é demais para se admitir. 

Os vários meios - como jornais, revistas, sites, blog’s e telejornais - querem e conseguem traçar as nossas atitudes. Como ser independente? Como ver a sociedade sendo tratada como igual? Como olhar no espelho do passado, entender o presente e ter esperança no futuro?

Minha mãe na sala assiste o jogo do Brasil e meu pai faz uma "média" culinária. Eu escolho a roupa para sair em horas úteis, longe das saias transparentes e do batom vermelho. Discordâncias vivem dentro e fora da primeira pessoa do singular. 

Me. 


                                            _Manuela Felix_




Quase



A mulher tinha cabelo vermelho, vestido florido, olhos cansados, trinta centavos nas mãos e o desejo de ter um pão. A pobreza estava presente, porém a minha carteira tinha 50 reais. Talvez eu seja rica, mas tenho faturas para pagar. Será que vou ter trinta centavos para comprar pão?

Enquanto isso, pego uma carona no posto 7 - em Maceió -  em direção a um lugar que não conheço. O estresse faz com que tenhamos atitudes extremas. Realmente, o objetivo era sumir às 2h da manhã para o nível celestial e ver o mar quando me colocavam contra a parede.

O beijo na testa me fez pensar: isso é ser feliz? Não sei, pois uma melodia toca dentro de mim como um lamento sertanejo. Por ser lá do sertão, lá do cerrado, lá do interior do mato ou do roçado, eu quase não consigo ficar na cidade sem viver contrariada.

Na certa, prefiro falar limitadamente e saber pouco dessa multidão.


Gilberto, Gil...

                                    _Manuela Felix_



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